Purpurina

Foto: Nyrium

          Olha a gente aqui outra vez, brincando de ser feliz, onde amar o que fazemos é lei. Desta vez, tudo se resume em um pó. Um pó mágico. Mais uma estreia, e, com ela, o brilho de uma noite que parece não ter acabado. Digo-lhes que o nosso escritor Jamerson Soares estará mais vezes por aqui. Boa viagem, e até daqui a pouco. 

          (Look at us here again, playing of being happy, where loving what we do is the law. This time everything sums up into a powder. A magic powder. One more debut and with it the glow of a night that doesn't seem to be over. I tell you that our writer Jamerson Soares will be here more. Good trip and I see you soon). 

 

Tradução em inglês no fim da postagem.

(English translation at the end of the post).

Purpurina

Foto: Nyrium

          “Do pó nascemos e do pó voltaremos”. Não. Eu diria “da purpurina nascemos e da purpurina voltaremos”. Aliás, esta que vos falo é um tipo de pó superficialmente chamado de composto químico. Ora, o superficial não me agrada, e, por isso, ando dizendo que ele não é como todos os outros, mas sim, aquele que regula os sentidos, ou não regula, apenas faz renascer o princípio dos mundos. Podem achar cômico o que eu disse, podem achar muito agressivo à moral conservadora e aos conceitos considerados verdadeiros e sãos, ou podem simplesmente ignorar. Interpretações vagas: o peso do mundo. É um peso em constante absurdo, e cego é aquele que enxerga o tudo só com o olhar debaixo da sua opinião absoluta. É um olhar fragmentado, assim como seu dono. Sem vestígios de liberdade, um veneno para a humanidade.

Foto: Nyrium

          Pó mágico, diferente, colorido, ensandecido. E é realmente ensandecido, porque ser um poeta louco basta - e também não basta - neste universo que abrange tantos outros universos que vivem a realidade demais. Na verdade, não sei o que basta, recrio-me incessantemente em todos os aspectos, e, talvez, seja essa a ressignificação de quem mergulha no ser das coisas. Olhar com a alma é tocar o infinito mesmo tudo sendo findo, porque só viver debaixo da graça das lamentações em que a vida nos trama, é burrice, um atraso. É preciso mergulhar neste mar de purpurina, que é o que se esconde na casca do peito, da alma, do jeito em verdade, do vil pensar e tentar tirar desse esconderijo uma canção com seus próprios acordes; o corpo fluido na melodia que toca, se toca, deixa levar com o vento, simples. Nesta escuridão que se habita, dançar no próprio ritmo sem olhar a dança do outro é considerado uma raridade.

Foto: Nyrium

          Penso, logo não sei se existo, mas persisto em sobreviver com o que eu penso. É um pouco desconexa a cerne cravada em minha pele, mas não é uma essência parecida ou igual a dos outros, os outros são os outros, e eu sou um outro criado no holocausto de si, que no fim, ressurge moldado com suas próprias ferramentas de vida. Sou a purpurina viva! Aquela que flutua na eternidade de ser quem realmente é, aquela que pinta um rosto sem vida, dá cor a um planeta cinza e que não se refugia mesmo com as afrontas dos inconsequentes.

Foto: Nyrium

          Há algo de indestrutível dentro do meu planeta. Sinto isso. E não é o lugar onde moro, mas onde o meu eu me habita dentro de mim. Sabe, às vezes tenho impressão de que se exilar de si mesmo é bobagem, mas vejo que é justamente o efeito da droga do sistema que circula em nossas veias, que nos faz pensar que é bobagem, então não é bobagem. Nós respiramos o irresoluto. Eu gosto de ser a calmaria em corações insanos, mas não os entender. Eles são injustificáveis e são os próprios que se injustificam. Estranho, não? Eu diria que incrível é o acaso e sei que não fui feito por ele, mas digo que é incrível porque desconstrói todo um plano; desabito em planos. Prefiro sonhar. Se tivesse como morar nestes sonhos vadios que perseguem minha mente, eu optaria por isso. Tenho dito: a realidade é uma tortura e torto é o coração de quem a aceita.

Foto: Nyrium

          Geralmente, o puro sentimento não surge do nada, às vezes do improvável. Sim. Eu sou o improvável, o inconstante que se liberta das amarras constantemente. Que se reverbera depois de um sopro pesado da masmorra do tempo. Transbordo resiliência do que já se é, do que já se tinha e que só agora se mostrou. Tenho plena convicção de que a luz é contemplada depois de muito suor e dor. Mas olha, que se dane os ignorantes! Eu quero é dançar o meu próprio ritmo, ser o par do meu próprio universo, espalhar neste caminho árduo purpurina e nele plantar liberdade.

Foto: Nyrium

          Conseguiu chegar à Terra? Bem, agradecemos a sua visita e esperamos o seu retorno além dessa leitura. O espetáculo que inspirou a postagem, as fotos e o texto, foi apresentado no dia 12 de agosto de 2016, no Teatro de Arena Sérgio Cardoso, às 20 horas, em Maceió-AL. A interpretação e dramaturgia do espetáculo é de Juan Pedro, com a direção de Anderson Vieira. Até mais!

Texto: Jamerson Soares         
Interlocução: Anderson Vieira
Fotos: Nyrium                         
Revisão: Maiara Padilha         

                                                                                                 
       

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Glitter

          "From dust we were born and to dust we'll return". No. I'd say: "From glitter we were born and to glitter we'll return." By the way, the one  that I talk to you about is a type of powder superficially called a chemical compost, well, the superficial doesn't please me and for that I've been saying that it isn't like all of the others, but the one that regulates all senses, or doesn't regulate, just makes the worlds' principle be reborned. You may find comic what I said, you may find it too aggressive to the conservative moral and to the concepts considered true and sane, or you may just ignore it. Vague interpretations: the weight of the world. It's a weight in constant absurd and blind is the one that sees the whole only with the look under your absolute opinion. It's a fragmented look, just like its owner. Without signals of freedom, a poison to the humanity.

            Magical, different, colorful, deranged powder and it's really deranged because being a crazy poet is enough, and also not enough in this universe that covers so many others that live reality too much. Actually, I don't know what's enough, I recreate myself incessantly in all aspects and maybe that's the resignification of whom dives in the things' being. To look with the soul is to touch the infinite even when everything is ended, because just to live under the grace of lamentations in which life plots us is stupid, a delay. Diving into this sea of glitter is needed, this is what hides the shell of the chest, of the soul, of the way in truth, of the vile thinking and trying to take a song with its own chords from this hiding place; the fluid body in the melody that plays touches itself, gets taken with the wind, simple. In this darkness that is inhabited dancing in your own rythm without looking someone else's dance is considered a rarity.

            I think, hence I don't know if I exist, but I persist on surviving with what I think. It's a little disconected the core rooted in my skin, but it's not an essence that's similar or equal to the others', the others are the others and I am another servant in the holocaust that rises molded with its own life tools in the end. I am the living glitter! That one that floats in the eternity of being who it really is, that one that paints a lifeless face, gives color to a gray planet and that  doesn't retreats itself even with the outrages of the reckless.

           

          There is something indestructible inside my planet. I feel it. And it's not the place I live, but where my inner self inhabits inside of me. You know, sometimes I have the impression that exiling from yourself is silly, but I see that is exactly the effect of the drug that circles in our veins what makes us think that, so it's not. We breathe the irresolute. I like to be the calm in insane hearts, but not to understand them. They are unjustifiable and are the ones that unjustifie themselves. Weird, isn't it? I'd say that amazing is the random and I know I wasn't made  by it, but I say it's amazing because it deconstructs a whole plan; I uninhabit plans. I rather dream. If I had a way to live in these stray dreams that pursuit my mind, I would choose that. I've been saying: reality is a torture and bent is the heart of whom accepts it.

          Usually, the pure feeling doesn't arise from nothing, sometimes it arises from the improbable. Yes. I am the improbable, the inconstant that constantly escapes from ties. That reverberates after a heavy blow from the dungeon of time. I overflow resilience from what it already is, from what already existed and just now showed up. I have plenty conviction that light is contemplated after a lot of sweat and pain. But look, screw the ignorants. What I want is to dance to my own rythm, be the pair of my own universe, spread hard glitter in this way and plant freedom in it.

          Could you arrive at the Earth? Well, we appreciate your visit and await your return beyond this reading. The spectacle that inspired this post, the photos and the text, was performed on August 12th of 2016, at Arena Sérgio Cardoso Theater, 8 pm, in Maceió-AL. The interpretation and dramaturgy is from Juan Pedro, with the direction of Anderson Vieira. See you soon!

Text: Jamerson Soares           

Interlocution: Anderson Vieira

Translation: Sofia Padilha       

Review: Maiara Padilha          

Photos: Nyrium                       

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